Zé das Éguas não morreu.
Lá pelas bandas de Ibiajara viveu há alguns anos um sujeito muito fanfarrão e astuto apelidado por todos de "Zé das Éguas". Zé tinha fama de comilão. Fazia suas refeições em uma bacia média que todos chamavam de "bacia de esmalte" e, muitos que por ali viviam já pressentiam o prejuízo quando ao aproximar " a hora do dicumê" seja almoço ou janta Zé das Éguas se aproximasse de sua casa.
Zé das Éguas àquelas alturas não andava muito bem de saúde. Vivia se queixando aos que por seu caminho aparecia:
_Cumpadre, num tô bem não. Meu istambo só anda arruinado.Num sei que laseira é essa não.
Todos que ouviam aquela lamúria de Zé das Éguas achavam que era invencionices dele. Papo para levar vantagem em alguma coisa, pois isso já era corriqueiro por ali.
Numa tarde, quase noite estava o povo ali reunido negociando seus leitões, suas mulas, suas novilhas quando um menino barrigudinho chega todo ofegante aos berros:
__Seu Mané, seu Quinca. Gente Zé das Éguas tá caído ali.
Aqueles homens todos ali reunidos partiram em direção daquele menino e chegando no local indicado avistou ali caído no chão o Zé das Éguas.
__Uai, será que Zé morreu?_ Indagava um.
__O homem tá gelado_ Replicava outro.
Concordaram que o homem estava morto. Pegaram o corpo levaram para sua casa e ali começaram a preparar o velório.Apesar de não ser muito bem quisto por muita gente daquela região, a pequena casa estava repleta de pessoas. Enquanto algumas mulheres velavam o corpo ali estendido num "catre" outras preparavam a comida num quartinho nos fundos o qual chamavam de "despensa" .Os homens preparavam o caixão com tábuas de mandacaru enquanto tomavam generosos goles de "catinga de porco".
Lá pela madrugada uma senhora que cochilava ali sobre uma mesa levanta-se assustada e comenta com a comadre:
__Cumadre Maria, parece que eu vi o defunto mexendo!
__Tu tá doida cumadre. Tá vendo coisa! Cuma é que o homem tá morte e mexe?
Dona Maria parecia convicta de que era maluquice da comadre, mas ficou cabreira e de "rabo de olho" ficava olhando fixamente para aquele defunto.
__Minha nossa senhora das Brenha!!! Cumadre! Também vi o defunto mexer a mão. Ambas saíram dali as pressas para contarem o acontecido aos maridos que estavam no feitio do caixão.
__Quinca, eu e acumadre vimo o Zé das Éguas mexendo.
Aquele homem assustou-se com o relato daquelas senhoras e partiu para a sala onde estava o defunto.Observou atentamente aquele homem, sem deixar transparecer nada aos demais ali presentes.
De repente aquele defunto ali deitado, pálido, gélido levanta-se, põe-se sentado sobre aquele catre e espreguiçando fala com voz rouca:
__Gente, mas tô morto de fome.
Neste momento viu-se uma correria tremenda. Mulheres, homens e crianças pulavam, saltavam aos gritos de susto e incredulidade do que tinha acabado de acontecer.
Zé das Éguas até mesmo depois de morto atormentava aquela gente.
Contado por: Alvino Alves de Oliveira
Adaptado por: Udirlei Correia
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