Relato pessoal sobre o surgimento da feira da Varzinha
No começo de outubro de 1957, num domingo, surgiu uma feira na Varzinha, em frente a casa de Félix José de Oliveira (Félix de Totonho ou ainda Félix de Sinhana). Eu não sabia. Não fui a esta feira. Só no próximo domingo, quando a feira funcionava pela segunda vez, fui a algum lugar, e de volta a visitei. O pessoal estava muito animado. Os homens vendiam bebidas, como cachaça, vinho, capilé ou xarope de groselha, xarope de pequi, e outras coisas. As bebidas vinham da Fábrica de Bebidas Cruzeiro do Sul, de propriedade dos filhos de Seu Pedro: Clemente Pereira da Silva e Zeferino Pereira da Silva. As mulheres, como Mariquinha de Manoel Alves e outras, vendiam café com uma variedade de bolos. Tudo em barracas improvisadas, cobertas com esteiras, panos e até couros de boi. O lugar era limpo, como se fosse um campo de futebol. Mais tarde foi construído um barracão no centro da futura praça, para venda de carne, toucinho, e para abrigar os feirantes em dias de chuva. A feira continuou aos domingos.
Eu sempre ia lá apreciar o movimento. Nunca soube ao certo quem foi o autor do projeto para criação da feira. Não demorou a ser feito o loteamento, formando uma praça, onde, entre outros, Antônio Zeferino, Elpídio Zeferino, Teonilo Zeferino, Geminiano Benedito Azevedo, Manoel Alves Azevedo, Alvino Azevedo, José João de Oliveira (o Zé de Ciça], Sebastião de Oliveira Genro (o Tiãodo Olho d'Água), Cláudio Pereira de Carvalho, Manoel Augusto de Oliveira (Branco). Francisco Assis e Manoel Messias da Silva, moradores no Cafundó, tinham uma loja de tecidos. Juntaram-se aos outros e começaram a construírem casas residenciais com pontos de comércio. A loja de Francisco Assis e Manoel Messias foi uma das primeiras a se estabelecerem na praça. Amâncio Oliveira, Vicente Oliveira, Lau de Rosa, e muitos outros, construíram ao mesmo tempo, da mesma forma.
Um belo dia chegou à feira o jipinho da Fábrica de Bebidas Cruzeiro do Sul, no qual estavam os donos da Fábrica – Clemente Pereira da Silva e Zeferino Pereira da Silva, acompanhados por José de Oliveira Nunes e José da Silva Neves. Foi a maior festa, pois era a primeira vez que um carro movido a gasolina era visto naquele lugar. O caminho ficou aberto para futuras visitas dos políticos e de outras pessoas.
Comecei imaginar em vender alguma coisa ali. Mas, vender o quê?... Eu já era hábil em aplicação de injeções. A primeira que apliquei foi em mim próprio. Pensei em vender medicamentos. Não tinha capital para começar. Procurei um patrão. Não encontrei. Fui à minha mãe, que já estava viúva. Fiz-lhe a proposta. Ela deu resposta negativa. Eu disse que com vinte mil dava para se começar. Ela respondeu afirmativamente: “vinte mil eu tenho”. Peguei os vinte mil, fui a Rio do Pires, comprei uns medicamentos que Zeferino e Rosalvo Mendonça tinham em meio a um comércio deles. Conduzi-os à Varzinha. Eram medicamentos comuns, como Biotônico, Vanadiol, Sanguenol, Xarope da dentição, Xaropes para tosse e outros, inclusive Penicilina. Seu Félix me deu um lugar em sua casa para guardar estes medicamentos. Fiz um armário grande, no Icós, que foi conduzido para lá com ajuda de pessoas amigas. Fiz outro menor, que coloquei em cima do grande. Fiquei andando do Icós para lá nos domingos, ou a qualquer dia. Vi que não era justo ocupar o lugar e não dar a devida assistência. Resolvi mudar para Varzinha, cuja mudança se deu dia 6 de junho de 1959. Viemos morar em uma casinha rústica, fora da praça, de propriedade de Joãozinho de José Alexandre. Demos início à construção da nossa casa, pois já havíamos comprado o lote. Nesta casa de Joãozinho nasceu Carolina, dia 23 de setembro de 1959. Passamos a morar na casa de Manoel Messias, na praça. A loja estava na casa do seu sócio Francisco Assis. Trouxemos os medicamentos, que já se encontravam na casa de Lau de Rosa, pois Seu Félix precisou demolir a casa velha para construí-la no alinhamento. Mudamos para nossa casa dia 17 de abril de 1962, levando a farmácia. Esta casa tinha 16 portas, 14 janelas e 10 cômodos, incluindo a cozinha. Construída com adobes (tijolos grandes, de barro cru). Para aproveitar melhor o meu tempo, comprei um consultório dentário, de propriedade de Manoel Cândido de Deoclides, depois de ter recebido o apoio de Zeferino, a quem devemos tudo, pois sem a profissão não teríamos como sobreviver em cidades como Correntina e Posse.
Comentários
Muito bom.
É bom saber da história da nossa ''terrinha''.
Conheci alguns destes personagens
entre eles o mais velho eram o Sr Félix
pai de Antônio